TESTEMUNHOS ESCRITOS
Testemunho de uma Educadora sobre a PDL
1. Poderia começar por partilhar um pouco da sua experiência?
Enquanto educadora de infância, tenho acompanhado de perto o desenvolvimento de várias crianças com PDL, e posso afirmar que cada uma delas me ensinou algo único. Já conto com alguns anos de experiência, e tive sempre em todos os grupos uma ou outra criança com dificuldades na linguagem. Estas crianças enfrentam desafios significativos na comunicação, o que por vezes afeta também a sua autoestima e interação social. No entanto, com o apoio certo, conseguimos observar progressos incríveis, as crianças ganham confiança, começam a expressar-se melhor e interagem com os colegas de forma mais espontânea. Acredito que com paciência, empatia e as estratégias adequadas, estas crianças podem superar muitos obstáculos, o mais importante é nunca subestimar o seu potencial.
A inclusão não é apenas uma meta, mas um caminho diário que exige empatia, escuta ativa e compromisso de toda a equipa educativa. Cada conquista deve ser celebrada e partilhada com os Terapeutas e os Pais, reforçando a importância de uma intervenção precoce e multidisciplinar.
2. Com base na sua experiência, quais são as dificuldades mais frequentes em crianças com PDL?
Por norma, as crianças que tenho acompanhado apresentam dificuldades em compreender instruções, frases simples, instruções dadas no coletivo ou perguntas diretas, o que pode afetar a sua participação nas atividades. Tendem a apresentar um vocabulário reduzido para a idade, com dificuldades na aprendizagem de novas palavras ou utilizar sinónimos e, em construir frases com ordem e gramática adequadas. Quando pedimos que relatem algo (por exemplo, o que fizeram no fim de semana), mostram dificuldade em organizar o discurso e sequenciar os acontecimentos, contar uma história, pode gerar mais ansiedade na criança.
Em alguns casos, há dificuldade em produzir corretamente determinados sons da fala, o que torna a comunicação difícil até para os colegas. Por não conseguirem comunicar como gostariam, muitas crianças com PDL sentem-se frustradas e, por vezes, evitam interações sociais. Considerando que a linguagem é a base para a aprendizagem, estas crianças podem ter as áreas da leitura, escrita e compreensão oral comprometidas.
3. Quais são os principais desafios que encontra, em contexto de sala de aula, no trabalho com alunos com PDL?
Sem dúvida que o maior desafio é encontrar formas eficazes de comunicação e de adaptação das atividades para garantir que a criança compreende, participa e se sinta incluída. A inclusão e participação da criança no grupo de pares, a adaptação de materiais e metodologias (apesar de hoje em dia existir uma grande variedade de jogos que se pode adaptar e a preços mais acessíveis) bem como a gestão do tempo e dos recursos (considero que seria uma mais valia as terapeutas poderem realizar algumas sessões em contexto de sala, não só para observar a criança em interação com os pares mas também para trocar estratégias com a educadora mediante a situação).
Outro desafio prende-se na dificuldade por parte das famílias em reconhecer a necessidade de uma avaliação precoce com um Terapeuta da Fala.
Trabalhar com crianças com PDL exige de nós um compromisso com a inclusão, paciência, flexibilidade e capacidade de adaptação. É essencial sentirmo-nos apoiadas por uma rede multidisciplinar, por políticas educativas inclusivas e por formação contínua adequada às exigências da prática (que é o meu caso).
4. Enquanto educadora de infância, que estratégias costuma adotar para apoiar a aprendizagem destas crianças?
Enquanto educadora numa sala de pré escolar, as estratégias passam por ter uma linguagem simples e clara, repetir instruções, estimular a comunicação e valorizar as tentativas de comunicação por parte da criança. Também ajuda que a nossa rotina seja consistente para que a criança consiga organizar-se melhor. Promover a socialização através de jogos cooperativos e atividades a pares, se possível com crianças que se expressem muito bem e que possam ajudar na estimulação. E por último, mas não menos importante, criar um ambiente seguro e acolhedor, encorajando a criança sem a pressionar, reforçando positivamente as suas conquistas. Bem como colaborar com os Pais e Terapeutas da Fala, partilhando estratégias e observações.
5. Como é realizada a articulação entre a escola, os pais e os terapeutas da fala no acompanhamento destas crianças?
No meu caso tenho a sorte de a Terapeuta da fala ir à escola (terapia é feita em contexto escolar) o que me permite falar com a mesma semanalmente e combinar estratégias. Também estou presente nas reuniões com os Pais e a Terapeuta onde partilhamos as diferentes opiniões e tenho acesso ao relatório da criança.
6. Na sua opinião, que consequências poderá ter a não identificação precoce da PDL no percurso escolar e social da criança?
Considero que a não identificação precoce da PDL pode ter consequências significativas tanto no percurso escolar quanto no desenvolvimento social e emocional da criança, tais como: dificuldades na aprendizagem com reflexo num baixo rendimento escolar, dificuldades em acompanhar o currículo e perda de interesse pelas atividades escolares; problemas de autoestima e motivação quando a criança percebe que tem mais dificuldade em se expressar que os outros, o que pode gerar frustração, insegurança e desmotivação, afetando a confiança em si mesma; dificuldades nas relações interpessoais.
Nos últimos anos também tenho sentido dificuldade em que as famílias façam uma avaliação de diagnóstico precoce, o que pode originar que a criança possa ser incorretamente rotulada como "preguiçosa", "desatenta", "mal comportada" ou até confundida com outros quadros, como PHDA ou autismo.
7. Por fim, que mensagem ou reflexão gostaria de partilhar com outros professores/educadores, pais ou profissionais sobre o acompanhamento de crianças com PDL?
Acredito que a linguagem é a base sobre a qual construímos o pensamento, aprendemos, socializamos e expressamos emoções. Quando uma criança apresenta dificuldades persistentes na linguagem, como acontece na PDL, todo o seu percurso educativo e social pode ser afetado. Por isso é essencial identificar precocemente sinais de PDL, quanto mais cedo se atuar, maiores são as possibilidades de progresso. A intervenção precoce permite que a criança desenvolva estratégias para compreender e expressar-se, evitando dificuldades futuras que podem afetar a leitura, a escrita e até mesmo a autoestima. Contudo é importante que este caminho seja feito num esforço conjunto entre educadores, terapeutas da fala, técnicos especializados e, principalmente, a família. Cada um tem um papel importante: o educador observa e adapta estratégias em sala, o terapeuta orienta o desenvolvimento linguístico, e a família dá continuidade ao apoio em casa, no dia a dia. Devemos apostar numa educação verdadeiramente inclusiva, que não apenas integre a criança com PDL, mas que a valorize e lhe dê voz.
Testemunho de uma Mãe sobre a PDL
“Por se tratar de uma área de conhecimento com baixa exposição pública, observa-se uma compreensão insuficiente por parte da população quanto à complexidade inerente a esta perturbação. Tenho a sensação de que cada vez mais crianças sofrem desta perturbação e nós pais deveríamos de ter mais conhecimento sobre o mesmo. Devia de ser um assunto de exposição pública para qualquer ser humano perceber a complexidade e a dificuldade que temos diariamente ao lidar com esta perturbação.
Felizmente, o diagnóstico foi feito a tempo, e desde então tem sido um caminho longo e desafiante. Já estamos há seis anos neste processo, e cada degrau que subimos é uma verdadeira conquista — mas acredito que aprender a ler foi o maior desafio para todos nós. Devido a esta perturbação, o meu filho, apesar de já estar a ser medicado para melhorar a concentração, ainda demora algum tempo a ler e interpretar as questões. Interpretar os textos ainda é um desafio: se não estiver focado desde o início, quando chega ao fim do texto já se esqueceu do que leu no começo. Copiar do quadro também é complicado porque as letras que vê nem sempre correspondem ao que se forma na sua cabeça. No entanto, estas dificuldades têm vindo a melhorar e atualmente, nota-se uma grande evolução — ele quase já não comete erros.
O meu filho sabe que tem esta perturbação e que tem de se esforçar mais um bocadinho, o que as vezes é desanimador para ele e para nós pais. Porque estamos constantemente em “luta” com esta perturbação. Como ele me diz: “oh mamã porque é que eu nasci com isto?!”. Esta perturbação, também os faz não terem tanta confiança em si próprios porque acham que não sabem ou que não conseguem. E às vezes é desanimador, mas quando vemos as conquistas o sabor a vitória é melhor.
Conselho aos pais: Tenham energia e serenidade. Acho realmente importante serem acompanhados por pessoas que vos ajudem e vos estendam a mão para tornarem o vosso caminho mais leve, porque vão precisar. Agradeço à terapeuta da fala que acompanhou o meu filho, por nestes anos todos termos caminhado sempre lado a lado. Confiem que dará tudo certo!”